Pessoas que largaram tudo para se aventurar nesse mundão de Au Pair!

16 outubro 2016

Maricota estava sozinha.


Maricota estava sozinha. Sozinha no seu quarto. Sozinha no seu mundo. Sozinha com o silêncio.

O relacionamento de Maricota com o silêncio, assim como todos em sua vida, era bastante vacilante e intenso.
Ela sentia que no silêncio ela conseguia delicadamente moldar e amadurecer suas idéias, idéias brotam o tempo inteiro, mas não se desenvolvem sozinhas. Não floreiam sem cuidado, sabe?
Então ela se focava nessas idéias bonitas. Equanto cultivava essas idéias Maricota tentava abafar as outras meio tortas. Planejava viagens pra lugares que achava que só existiam nos seus sonhos, pensava onde estaria em alguns anos e imaginava uma vida feliz. Ela amava esse tempo tão seu. Ela amava esse silêncio.
Mas as vezes aquelas idéias meio esquisitas escapavam. Então ela odiava o silêncio porque ele a ensurdecia.
Quando essas idéias deturpadas vinham a tona tudo virava do avesso. Quando o mundo fora dela estava quieto o mundo dentro dela explodia. E se ninguém falava do lado de fora ela podia ouvir todas as vozes que gritavam do lado de dentro.

Maricota buscava então maneiras de abafar todo esse barulho. Mas tristemente nada parecia funcionar. Nada conseguia calar as vozes que ela não queria ouvir. Aquela voz que dizia que ela tinha cometido um erro atrás do outro. A voz que dizia que ela devia desistir de procurar seu lugar, parar de tentar achar a carreira certa, o país certo, os amigos certos, o namorado certo... a voz que dizia que ela devia desistir de buscar essa tal felicidade que parecia tão impossível de alcançar e aceitar o que viesse. Aquela história dos limões e limonada. Mas ela gostava mais de morangos...
E ainda tinha a outra voz que dizia que enquanto todos tinham construído uma vida, uma carreira e um grande circulo de amigos e seguido em frente ela ainda estava ali, sempre de volta a estaca zero e, sempre sozinha. Mas ela tinha estado sozinha em tantos lugares com tanta gente diferente...

Enquanto os outros seguiam sempre em frente construindo suas histórias ela se sentia vagando em círculos, tentando e desistindo, ela não conseguia continuar quando percebia que ainda não era aquilo que ela queria, não era bem aquilo que ela precisava.
Ela sabia que era, para a maioria das pessoas, tão mais fácil ignorar essas vozes, essas idéias tortas. Algumas pessoas tinham uma habilidade incrível de se moldar a uma vida pré moldada. Maricota tentou. Ela se expremeu o máximo que podia e tentou caber alí também. Mas ela não conseguiu, ela simplesmente não cabia nessa vida que disseram que era a certa.
Ah como Maricota invejava essas pessoas tão certas! Ela queria tanto ser assim como eles. "A vida deles é tão mais simples, tão mais fácil..." ela pensava. Será que ela devia tentar de novo? Se esforçar mais?
E então ela se questionava se só suas idéias que eram tortas ou se ela mesmo tinha acabado se entortando.


​E por ser assim tão "incabível" Maricota se viu de novo sozinha. Sozinha com seus problemas e seus dilemas.
Ela queria que alguém dissesse o quão tola ela tinha sido e que ela estava cometendo um grande erro naquela noite. Ou que alguém dissesse que, considerando sua condição humana, ela tinha feito tudo da melhor maneira possível.
Maricota queria uma opinião sincera. Ela não queria ser a única responsável por suas decisões. ​Não importava há quanto tempo ela estivesse sendo assim, era e sempre seria muito difícil ser tão autosuficiente.
Porque no fim do dia o que Maricota mais queria era alguém que dissesse que tudo estava bem. Ela estava tão cansada de ir dormir com essa incerteza. Ia mesmo ficar tudo bem? O que era o tudo bem afinal? Tantas idéias tortas...

Ela queria compartilhar seus anseios e queria dividir seus medos pra ver se eles diminuiam, mas ela não conseguia. Ela não queria ser fraca. Maricota sabia que essa idéia de ser fraca que colocaram na cabeça dela era incabível, mas era uma daquelas idéias tortas que ela não conseguia superar. Boba que ela só, não sabia pedir ajuda. Ela precisava que alguém se oferecesse pra ajudá-la. Porque ela fazia isso com os outros. Não era assim que deveria ser? A gente não deveria ser capaz de enxergar quem precisa de apoio e oferecer a mão ou o ombro? Maricota achava que sim. Então se ninguém perguntava nada ela não dizia nada. Ela se afastava e se fechava. E ficava cada vez mais sozinha com suas idéias. 

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Bruna Toriello

5 comentários:

  1. Ual! Que texto menina. Me descreveu, assim como o último seu que li. Não pare de fazer textos/poemas assim, porque são lindos e toca na alma da gente. Obrigada!

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    1. Obrigada você, Aline! É tão gostoso ler um comentário como o seu!
      Beijão!

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  2. Que delicia de texto, me prendeu totalmente...eu conseguiria ler um livro seu fácil hahahaha

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    1. Danusia, you just made my day! haha Super obrigada :)

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  3. Eu leio sempre seus posts! nem me surpreendo mais com sua incrível sensibilidade de transcrever emoções e sentimentos de uma alma sonhadora. Sempre espero o melhor de vc! Vc é uma guerreira que venceu a si mesma com todas as honras e méritos,merece cada conquista que tem, até salvei esse texto para ler mais vezes

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