Pessoas que largaram tudo para se aventurar nesse mundão de Au Pair!

20 abril 2017

O Au Pair me ajudou a ter certeza de que não quero ter filho


Quando você ler esse título, provavelmente a primeira conclusão que vai tirar é que eu estou tendo uma experiência horrível cuidando de criança, e que devido a isso eu desisti do sonho de ser mãe.




PEEEM! Errou feio. Muito pelo contrário, eu estou amando minha vida aqui, e o trabalho em si, por mais que tenha seus momentos difíceis, tem me mostrado o quanto eu gosto de criança. Sim, pasmem: pessoas que amam criança também podem escolher não ter filhos!



Eu poderia dizer que o principal motivo dessa afirmação é ver o quão cansados meus hosts ficam após passar um dia inteiro no trabalho, e, ao chegar em casa, ter que alimentar, acalmar, educar, brincar e pôr as crianças para dormir, muitas vezes sem sucesso. Quero dizer, enquanto eu passei o meu dia fazendo tudo isso e a noite é meu descanso, eles passaram o dia deles fazendo outro trabalho, mas a noite eles fazem o meu trabalho sem ganhar nada por isso. 

Ou eu poderia dizer que o motivo é eu ter percebido que ter um filho é uma coisa extremamente cara, e que se você não mora num país desenvolvido e tem um emprego ótimo e estável, provavelmente vai ter que abdicar de muuuitos dos seus planos e coisas que você tinha sonhado para si. Sim, porque obviamente se eu tiver um filho eu vou amá-lo e vou preferir fazer os seus gostos a os meus. Note: eu não estou dizendo que os pais são obrigados a abrir mão de suas coisas pelos filhos, mas eu entendo que a maioria (inclusive eu, se tivesse), passa a pouco se lixar para si mesmo depois de dar à luz a uma criaturinha tão frágil e dependente. 




Ou, por fim, poderia alegar que eu já tenho uma cota suficiente de preocupação com outras pessoas, e não preciso de mais ninguém para ter que cuidar, pensar e me preocupar. Eu tenho os meus pais, irmão, amigos e namorado no Brasil, que são meus “bens” mais precisos. Eu me tremo toda só de pensar em algo ruim acontecendo com um deles, e não iria querer somar mais alguém nesse pacote. A não ser que essa pessoa já esteja no mundo, né. I mean, eu não quero GERAR uma responsabilidade emocional tão grande por livre e espontânea vontade.


Mas a verdade é que quem quer ter filhos vai dizer que tudo isso vale a pena no final das contas, que é recompensador e gratificante. E eu não tiro a razão deles. Longe de mim querer que todos no mundo decidam não ter filho! Hahah. Mas vamos então à revelação do meu real motivo.


O meu motivo é nada menos do que todos esses citados acima juntos, e mais o fato de que simplesmente eu tenho vontades maiores que se sobrepõe a isso. Eu concordo que ver uma criança crescer e ter seu caráter moldado com nossa ajuda é uma coisa maravilhosa. Eu tenho vivido isso no meu ano de Au Pair e posso afirmar que é muito gratificante, sim. Mas não precisa ser seu filho para você experimentar desse sentimento. Eu posso trabalhar com crianças, eu posso ser tia, posso aproveitar minha experiência de Au Pair para convencer meus amigos papais e mamães a deixarem suas crianças comigo quando quiserem sair, viajar etc. Isso se compara a ser uma mãe? Não, não se compara. Mãe é aquela pessoa que está lá pra as coisas ruins também, e por isso a quantidade de intimidade e amor não são equiparáveis.


Posso estar parecendo contraditória ao reconhecer essas vantagens da maternidade, mas eu só quero mostrar que eu entendo e respeito todos os contra-argumentos que possam ser apresentados sobre essa minha decisão.


Eu sei que pessoas vão surgir do além para palpitar, dizer que eu sou nova e um dia meu instinto materno vai falar mais alto... porque é isso que a sociedade faz com as mulheres: não lhe dá opção, romantiza a maternidade, e cria as meninas desde cedo fazendo-as acreditar que ser mãe é a coisa mais grandiosa que ela pode um dia alcançar.





Eu só quero, através desse texto, atentar as manas para o fato de que, se os motivos por quais você quer ter um filho se resumem a ser mulher e gostar/levar jeito com criança, repense isso. Talvez você só esteja seguindo um caminho que lhe foi empurrado sutilmente goela abaixo desde que você nasceu. Só lembrando que não somos obrigadas a nada.


Resumindo: não é porque eu sou mulher e gosto de criança, que eu devo ter filho. Ao mesmo tempo, não é porque eu não quero ter filho que eu não ache essas mini pessoinhas as coisas mais fofas desse mundo. Acreditem, o buraco é muito mais embaixo. 


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Unknown

6 comentários:

  1. Eu já pensei assim também. Dos meus 18 aos 24 anos eu sempre dizia de boca cheia que não queria ter filhos e todos me questionavam dizendo que era coisa de momento, que eu amava crianças e sempre cuidei muito bem delas. De fato, eu amo crianças, amo pesquisar e estudar sobre desenvolvimento infantil e qualquer coisa do tipo. Alguns chegaram a dizer que eu era egoísta em optar por não ter filho (oi?). Ocorre que do dia para noite eu simplesmentee precisava ter um filho. sem razão nenhuma. a vontade de ter filho começou a me consumir. Comentei isso com um médico e ele me disse que isso é normal, chega uma hora que por instinto a mulher começa a pensar em procriar. Me receitou uns hormonios e a vontade de ter filhos desapareceu da mesma forma como veio!
    Atualmente eu nao digo mais que não quero fihos, apenas digo que se ele vierem, que sejam frutos de um relacionamento estável e verdadeiro e que eu tenha condições financeiras de criá-los em excelencia.
    Mas a verdade é que o fato de estar constantemente cuidando de crianças, de certa forma, faz com que o brilho da maternidade seja ofuscado pelas malcriações, fraldas sujas, narizes ranhentos e choros.

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    1. Ser egoísta por não querer ter filho é ótimo. Eu não sabia disso, bom saber que se essa vontade bater, é só ir a um médico haha. Brincadeira. Mas é bem isso que você falou mesmo, acho que ser au pair esclarece muita coisa da maternidade. Se todo mundo que pensasse em ter filhos pudesse passar por essa experiência antes para confirmar, seria ótimo.

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  2. Adorei seu post, resume bem os meus sentimentos quanto a maternidade... amo crianças, mas ainda tenho minhas duvidas. Bacana deixar isso claro, que não é porque somos mulheres e (no caso de aupairs) queremos trabalhar com crianças que temos que ser mãe um dia.
    Parabéns!

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    1. Exatamente, Rebeca! Obrigada pelo seu comentário. Uma coisa tão natural dessas soa tão estranha para algumas pessoas. Mas aos poucos vamos quebrando esse tabu.

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  3. Esse texto me definiu! Obrigada =)

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    1. Que bom, Danusia! Obrigada você pelo comentário positivo.

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