Indo muito direto e reto ao ponto, esse tem sido o meu desafio no final da trajetória auperiana. Aquele início cheio de vento e perfume de rosas batendo na cara se transformou, mês após mês, numa suada corrida pelos louros de César.
A reta final não é fácil. As diferenças culturais foram assimiladas - algumas aceitas, outras não. Sei onde estou, me sinto em casa. Conheço meu bairro, minha cidade, a ponto de saber pegar atalhos, ter na cabeça os horários do metrô e saber os números de algumas linhas de ônibus. Entendo o que as pessoas falam sem precisar pedir pra repetir mil vezes. Conheço as manhas das crianças e as manhas da mãe delas. Parece que tudo virou rotina, que me acostumei, que sei o que estou fazendo...e que, em algum lugar no meio dessa adaptação toda, ficaram perdidas as expectativas e as motivações que embarcaram comigo. Por quê?
Eu diria que é porque o ano de uma au pair se divide em períodos - as famosas crises dos 3 meses, sabe?
Nos primeiros três meses tudo é novidade. A comida, os preços, as roupas, o idioma, o trabalho, a casa, a família, o carro, a tal da moeda de um centavo, a tal da tip, etc. Passada a empolgação e o susto, bate uma crisezinha de saudade de tudo e todos, e a gente até pensa em voltar...
Os 3 meses seguintes são os melhores, na minha opinião. A gente não está mais assustada com todas as novidades, já pegou o jeito das crianças, já fez amigos (as), ja sabe onde ficam os malls e as baladas...é a fase em que a maior preocupação mesmo é curtir a vida nazamérica. A crise subsequente é mais no estilo "nossa, o tempo tá passando rápido demais, eu preciso estudar, comprar meu iPod, juntar dinheiro pras férias, pesquisar o preço daquela chapinha, etc".
Os próximos 3 meses contam com a estabilidade dos anteriores e com uma nova ansiedade: voltar ou estender o programa? Ficar com a mesma família ou tentar uma nova? Juntar dinheiro pra viajar no 13o mês ou começar a comprar muita muamba pra revender? E como eu vou botar todo o meu quarto dentro da mala sem pagar excesso?!
E os últimos, a reta final...bem, a minha está começando agora. Completei 9 meses no último dia 24, e agora parece que tudo se move em contagem regressiva. Começo a sentir saudades antecipadas, ao mesmo tempo em que já não estou com a cabeça aqui, no meu dia a dia, e sim no que virá depois.
E não é impressão sua, leitor, você já deve ter ouvido essa história antes, se é que não passou por ela com seus próprios sapatos. Antes de sair do Brasil, minha cabeça já não estava lá. Eu vivi mentalmente nos EUA durante uns bons meses por antecipação, e por essa ser uma saída fácil e confortável considerando a minha realidade naquele momento.
E agora estou vivendo a próxima experiência, e isso não só me deixa longe da minha realidade, como também me deixa insatisfeita com a mesma. Numa boa? Ser au pair dá no saco, não é vida que se deseje à ninguém e só tem cara de dinheiro fácil, porque no fundo é um jeito bonito de se comer o pão que o diabo amassou com a bunda e vestir Hollister comprada na promoção. Ai, falei.
(na verdade quem falou foi a Fernanda, é preciso dar os créditos)
Revoltas à parte, o fato é que tudo o que eu achava bonitinho, engraçadinho e diferente no começo, hoje em dia me dá vontade de sentar e dar com a cabeça na parede. Os papos da chefia, o jeito de lidar com as situações e com as crianças, o trabalho em si, tudo deixa a impressão de que já deu, que não tem mais solução, que o jeito é ir embora, que eu nunca nasci pra isso mesmo, que pouco importa se o menino vai crescer um entojo, que se eles não separam os talheres na dishwasher o problema não é meu mesmo, e que se um dia a cachorra morrer de tanto latir lá fora pelo menos a casa fica quieta, e que se não tem laundry basket separada, uma próxima au pair vai fazer um boneco de vodoo com a underwear da chefia e que eu preciso pedir pra ela me mandar fotos. Ufa...
E é claro que, apesar da vontade de tacar fogo em tudo, o jeito mesmo é caprichar no sorriso de miss e terminar o intercâmbio pensando mais nas experiências vividas e nas amizades conquistadas, e menos no stress e nas emoções malucas dos últimos 3 meses.
Eu achava que seria difícil sair de casa. Depois, achei que seria muito difícil de me adaptar. Ah, se eu soubesse antes o quão intenso seria me preparar pra ir embora!
beijo e queijo
O post ficou ótimo!
ResponderExcluirConcordo plenamente com o comentário sobre "comer o pão que o diabo amassou com a bunda e vestir Hollister comprada na promoção", é a pura realidade para a maioria das pessoas, pelo menos é isso que eu vejo. Claro que tem as pessoas que acham tudo lindo e que essa vida é a melhor de todas, isso depende muito da pessoa, mas ser au pair enche o saco SIM!
Porém, acho que muitas pessoas ainda devem passar por essa experiência e não desencorajo ninguém que queria tentar. Eu quis tentar e estou aqui, tentando manter minha sanidade mental.
Não vou cuspir no prato que eu ainda tenho que comer por mais 6 meses, morar nos EUA tem os seus pontos bons. Ênfase no MORAR nos EUA, ser Au Pair nos EUA já são outros 500...
Aqui a gente cresce sim e aprende a dar valor em muitas coisas. E eu precisava dar mais valor nas coisas que eu tinha ao meu redor no Brasil.
Não estou tendo "the time of my life", mas estou levando. A vida não é fácil, não, João!
Muito bom esse post, muito verdadeiro...eh isso ai mesmo...coloca o sorriso de miss na cara e forca na peruca pra passar por todas as etapas!
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