- pra onde vai aquele avião? –
eu acho que vai pra Itália – mas a Itália não é pro outro lado? – ele pode ir
pra Berlin então, ou pra Munique – não, ele tá muito alto pra ir pra Munique. Acho
que ele vai descer em Nürnberg – e aquele outro? – aquilo não é um avião. – ué,
tá voando, se não é avião é o que? – pode ser o super-homem, ou só um
passarinho...
Os finais de tarde geralmente
tinham uma conversa assim, pois o céu estava lilás, azul e alaranjado com
vários riscos brancos dos aviões que o cortavam. Geralmente estávamos na cama
elástica ou voltando do parquinho e parávamos para olhar o céu – o menino mais
novo e eu. Para vocês terem noção um dia ele me explicou que eu
não podia de jeito nenhum levantar o braço igual o Hitler fazia, porque ele foi
um cara muito malvado e eu não era malvada. E era com essa criaturinha de oito
anos com quem eu mais falava; eu tinha que cuidar de outros dois guris também,
mas eles quase nunca paravam em casa (pra minha alegria \o/).
À noite as crianças iam dormir
lá pelas 20h e eu ficava na sala de tevê com os pais delas – às vezes rolava
conversa, às vezes não. E eu achava isso estranho. Não sei como era, ou é, aí
na sua casa, mas eu achava a minha relação com meus pais postiços muito
bipolar! Enquanto o meu pai postiço me apresentava aos mais variados tipos de cerveja e me contava coisas em inglês pra eu recontar
pra ele em alemão, a minha mãe postiça conversava comigo por bilhetes deixados
em cima da mesa da cozinha. o.O Isso me incomodou por um tempo, pois eu lia de
au pairs que conversavam sobre tudo com a mãe postiça e a au pair anterior a
mim me falou que a mulher era um poço de doçura (lição 1: não acreditar em tudo
o que a au pair de antes diz).
A minha relação com a
gastmutter não era muito boa, e eu cheguei à conclusão de que: nossos santos
não bateram. Eu tentava puxar papo, mas vinham respostas do tipo “sim”, “não”,
“ahn”. Isso desanima qualquer conversa, não? Eu contava das viagens, pra onde
ainda queria ir, e era um desinteresse tremendo por parte dela. Mas sempre tava
“tudo bem” quando eu perguntava. Cheguei a pensar que ela me detestasse, e que
se eu perguntasse isso pra ela, ela fosse querer me mandar embora imediatamente,
como se devolvesse um produto com defeito! Teve um dia que eu resolvi fazer uma
pesquisa “como se dar bem com sua gastmutter” na internet. Encontrei vários
blogs, inclusive este aqui, e um super interessante escrito por hostmoms, mas
não encontrei nada sobre o que eu queria saber. haha Descobri que não tem
receita, não. E que aquele era o jeito dela, eu teria é que aceitar e me
adaptar à ele. Isso foi um exercício danaaado de paciência. Ela não me tratava
mal, me deixava viajar o quanto eu quisesse e ainda me ajudava com lugares pra
ir e onde ficar. Eu só achava estranho eu me sentir mais à vontade em conversar
com o coelho que eles tinham no quintal do que com ela. Mas enfim, isso de ela
não falar direito comigo me ensinou a ser mais cara de pau. ;p
Sequer passou pela minha
cabeça trocar de família, caso você se pergunte. Eu teria mais a perder do que
a ganhar com isso. Eu me sentia à vontade o suficiente para roubar um abraço do
meu pai postiço quando eu tava com saudades do meu de verdade, e de conversar
com as plantas mesmo se eu não estivesse sozinha em casa. Então eu resolvi
ficar na minha, enquanto a gastmutter ficava na dela. Quando eu precisasse de
algo eu ia lá e falava, mas nada mais que isso.
Agora que meu ano como au pair já acabou e eu escrevi esse texto tentando contar do que mais me incomodou quando eu estava lá, eu vejo que era coisa da minha cabeça. Eu li tanto na internet que “au pair é como se fosse da família”, e me empolguei tanto em ser, como a gastmutter dizia nos e-mails, “a irmã mais velha dos guris” que eu me iludi com essa ideia e quando ela não deu certo eu achei que algo estivesse errado. Cada pessoa é única e o amor incondicional que a família tinha pela au pair anterior, eles não tinham por mim. O que não quer dizer que eu não tinha o carinho e o respeito deles, do jeit"inho" alemão de ser. Mas nem por isso meu ano deixou de ser bom ou foi ruim. Ele foi do jeito que foi, como eu consegui fazê-lo ser e fantástico em cada momento. Ninguém nunca disse que seria fácil, ainda mais com alemães.
E com a sua família, como é/era?
;D
Oi Mel! Meu gasvater mesmo sendo metade brasileiro e metade alemao, ficava sempre um silencio constragendor qdo tavamos juntos, nao tinha papo mesmo, mas nada de grave. A mae era mais tranquila, da rep tcheca mas falando alemao flurnte, como ela ficava mais em casa, conversavamos mais, mas nada como 'amiiigas' sabe. Mas ela chorou qdo se despediu de mim, haha. Acho q depende muito das pessoas e au pairs... Mas hoje na minha familia na suecia tenho muito mais intimidade e liberdade pra falar besteira e etc hahah.
ResponderExcluirHah, na minha despedida eu senti como se fosse um alívio pra eles me levarem ao aeroporto..
ExcluirMinha host mon é indiana e mora há 15 anos nos usa, então ela é uma msitura! Mas é mto acolhedora e calorosa, como nós brasileiras!E gosto de conversar com meu host dad, até prefiro bater papo com ele do que com ela! Mas, vou confesar que nunca quis e acho que nunca vou querer fazer parte dessa familia Prefiro sentir que eles são meus chefes, que uando estou no meu quarto é como se tivesse voltado pra casa e ue amanhã verei eles de novo! Ela tenta de todas as maneiras aprofundar nossa relação, ams prefiro ser um pouco distante! Se nao acabamos sempre falando da mesma coisa, do baby! Enfim, ela já pegou que gosto de ficar na minha e agora ta tudo indo muito melhor ;)
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