Ficar doente não é legal. Ficar
doente fora de casa é pior ainda. E eu sou propensa a isso por alguma vontade
angelical ou falta de preparo psicológico, nunca saberei. Eu sofro constantemente
de enxaqueca, e fico inútil por um dia ou dois, mas eu não escrevi isso na
minha papelada pra tirar o visto de Au Pair. Vai que a família não quer alguém
enxaquecada?? Hahah! E a moça do consulado disse que não precisava também, a
não ser que eu tivesse um aneurisma, aí seria importante a família saber.
Então pra minha absurda sorte,
no meu segundo dia na casa da família eu caí de bicicleta. Os dois guris mais
novos quiseram ir comigo até a casa de
um amigo, de bicicleta, e numa curva muito torta com pedras no caminho eu freei
quando não devia, bati na pedra e me quebrei toda. Na hora eu não percebi, mas
ao chegar na casa do amigo deles eu vejo meu dedão da mão direita todo
ensanguentado e não foi nada legal. A mãe do amigo dos guris foi bem querida,
me enchendo de gelo e café e abraços e logo a minha mãe postiça veio me buscar.
Fomos ao hospital. Nesse
momento meu alemão era péssimo e meus diálogos eram super dependentes do
dicionário que eu carregava pra cima e pra baixo no bolso. Eu parava a
conversa, procurava a palavra que eu queria no dicionário, e continuava a
conversa. Eu não sei se eu teria paciência para conversar comigo.. Ao entrarmos
no hospital, minha mãe postiça foi até a recepção com meu passaporte e o papel
do seguro-saúde; esperamos um pouco e uma enfermeira já me chamou.
O lugar estava deserto! Não
fosse pelos eventuais enfermeiros pelos corredores eu diria que era um lugar
abandonado; bem cuidado, porém. Fui para a sala de radiografia e não entendi
NADA do que a enfermeira me perguntou. Então ela repetiu mais devagar e eu
continuei não entendendo. Minha mãe postiça virou intérprete e me falava em
inglês o que a enfermeira queria me dizer em alemão. Na hora foi tenso, hoje é
engraçado. Pois bem, ela disse que algo aconteceu com meu dedão e me receitou
remédio. Ok. Voltamos pra casa e minha mãe postiça foi comprar meu remédio na
farmácia. Aííí no dia seguinte, quando eu acordo minha mão está assim:
Oi, tenho a mão do Shrek!
huhuhu
Voltamos ao hospital, e aí eu
fui atendida por uma médica que tirou mais radiografias e disse: você quebrou o dedão!! E ela falava inglês!
Uma cidade no fim do mundo, de 7mil habitantes, e a médica fala inglês! Eu
achei fantástico! E ela me diz que poderia enfaixar o dedo ou engessar meu
braço. No fim, fiquei com o braço desse jeito por duas semanas:
Meus pais enlouqueceram aqui
no Brasil, mas eu estava bem; com um braço engessado e inútil, mas bem. As
aulas de alemão viraram um tormento, pois eu só conseguia escrever com a mão
esquerda e eu não sou canhota. Eu quis comprar um casaco, pois estava frio e eu
não tinha um casaco confortável pra ficar em casa. Tu já tentou experimentar
alguma roupa com um braço engessado? Não? Que bom, pois não dá certo!
Outra coisa que não dá certo é
lavar cabelo! E aí eu fui num salão de beleza, pois queria só que lavassem e
penteassem meu cabelo. Decorei umas palavras (lavar, pentear, creme, escova) e
fui até o salão, sem marcar hora. Consegui que me entendessem, mas foi uma
desgraça quase completa! "Mas tu só quer pentear?", a cabeleireira me
perguntou. "Sim, eu não consigo pentear sozinha com o braço
assim...", eu respondi. E no fim, ficaram com pena de mim e me cobraram
"só" €10.
Essa novela terminou duas
semanas e meia depois, quando eu tirei o gesso e aí comecei a viver plenamente
como uma Au Pair na Alemanha!
Depois disso eu tive algumas
crises de enxaqueca e gripe, mas nada que me levasse ao hospital outra vez. Pra
enxaqueca eu tinha levado remédio do Brasil, e pra gripe eu me virava com chá,
vitaminas que eu comprava no supermercado e muito sono. Houveram dias em que eu
sequer saí da cama, e aí eu deixava que os guris assistissem TV o dia inteiro e
eu ficava no quarto. Como o mais novo tinha oito anos eu conseguia deixá-los
sozinho sem que eu precisasse estar o tempo todo em cima. Eu só os influenciava
na escolha dos filmes, pois geralmente o mais velho queria ver algo que deixava
o menor com medo.
Em todos esses dias ruins aí a
minha família postiça me apoiou. Eu não paguei por remédio nenhum, e o seguro saúde cobriu tudo o que eu tive que fazer no hospital (radiorafias, consulta e gesso). E eu achava uma graça que, quando eu tinha dor
de cabeça, o menino pequeno me dizia sussurando "eu vou te deixar
quietinha aí então e não vou fazer barulho, pra tu ficar melhor!" Ele me
dizia isso pois às vezes ele também tinha essa dor chata, mas, mesmo assim, a
criatura tinha oito anos!! Eu achava o máximo!
E tu aí, já se aventurou no
hospital alguma vez?
tradução do título? "Eu estou doente! Mãe, cadê você?"
kkkkkkkkkkkkkkkkkk.. muito fofo esse guri de 8 anos...
ResponderExcluirnuss que sofrimento o seu de ficar essas duas semanas e meia com o braço engessado , ainda bem que a host foi super legal com você...
kkkkkkkkk adorei o post!! que kid fofa!!
ResponderExcluirGosto muito do jeito que tu escreve! Por mais triste que é ficar doente, tu contando é engraçado, rs.
ResponderExcluirFofura seu kid te deixar em paz quando você está mal.
Beijinho!
Débora - longevoar.com.br
tirando o titulo, que ngm faz ideia do que signifique, o post tá bem legal ahahaha e poxa, logo no primeiro mes acontecer isso, que mancada do destino hahah.
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