Pessoas que largaram tudo para se aventurar nesse mundão de Au Pair!

02 dezembro 2016

Minha 3ª HOSTFAMILY e a SURPRESA no PÓS AU PAIR

   
     Olá pessoal! Tudo bem com vocês? Eu sou a Júlia, fui au pair em 2009, e hoje sou psicóloga. Além do consultório, trabalho orientando pessoas que querem morar fora, principalmente au pairs, e estarei com vocês todo dia 02! 
   No meu último post contei que durante meu ano de intercâmbio passei por 3 rematches, e que separaria um post especial para falar da minha 3ª hostfamily, não só por ter ficado lá por mais tempo, mas, principalmente por ter aprendido muito!
   Acho que, em algum momento de descontração no facebook ou instagram, você já deve ter visto esta frase, né?


   Como psicóloga, eu vejo que ela não é uma regra, mas sem sombra de dúvidas, se encaixa perfeitamente na minha terceira hostfamily. 
   Para este post não ficar muito longo e cansativo, vou dividi-lo em duas partes, e nessa primeira, começarei apresentando minha a minha 3ª HF ! Duas meninas, de 9 e 3 anos "half korean" (metade coreana - não tenho nada contra nenhuma nacionalidade, é só um complemento), a host havia se separado recentemente, e estava brigando pela guarda das meninas na justiça, que até então, era compartilhada; ela trabalhava muito (muito mesmo), e o pai (que morava em outra casa) trabalhava em home office, e havia criado as meninas. Elas eram super apegadas a ele.
   Lembro perfeitamente que assim que a ex au pair foi embora, a Host começou a me passar algumas regras da casa, e uma delas era que o pai não poderia entrar na casa, nem para pegar as meninas, e caso ele entrasse, eu deveria chamar a polícia. Acho que dá para imaginar a minha cara com essa informação, e é claro o medo, né. Até então eu não o conhecia, mas imaginei um homem enorme, um monstro, devorador de criancinhas e au pairs, invasor das casas alheias! Exageros à parte, jamais pensei que o pai era um homem careca, magrinho, com poucos centímetros a mais que eu (detalhe: eu tenho 1,60 cm) e por quem as meninas tinham adoração.
   Meu horário de trabalho lá era bem tranquilo, pois metade da semana as meninas ficavam com o pai. O grande problema acontecia quando eu tinha que buscar a pequena na casa do pai. Eu era a vilã que roubava "a princesa dos braços do herói"; no início era assim que ela me via, e algumas vezes, praticamente arranquei ela a força, contra a minha vontade! Era ela chorando no banco de trás, e eu na frente, com pena! Depois de algumas semanas, tive a ideia de sempre fazer algo diferente nessas ocasiões, um playdate, praia, parquinho, e deu certo! Ela era (deve ser ainda) muito esperta e aprendi a conversar com ela, a ouvi-la e ensinar sobre o que ela estava sentindo, e algumas cenas em particular me marcaram bastante! Lembro de uma vez que fui pegá-la na escola, após um final de semana com o pai. Ela esperava ele, e não eu, e seu rostinho de decepção foi evidente! No carro, com os olhinhos cheios d´água, ela falou: Julia, I want daddy! I like you, but I like daddy better, you know?!" (Traduzindo: Julia, eu quero o papai! Eu gosto de você, mas eu gosto mais do papai, entende?!)  Fiquei sem saber o que falar, e só o que me veio naquela hora foi: “I know how you feel, because I want my daddy too, Sweetie”.(Traduzindo: eu sei como você se sente, porque eu também quero o meu pai, querida!)
   Ela era difícil, sim! Tinha só 3 anos, e já me desafiava, desafiava a mãe, batia, beliscava, xingava as pessoas no mercado, na rua e com palavras pesadas como:  “you fake, you devil, you perv” ( falso, demônio, perverso),  e coisas do tipo, bem inapropriado para uma criança de 3 anos! Usava fraldas, chupeta e mamadeira (mas ficou mocinha e largou tudo no decorrer do meu tempo lá) e no início, só tomava banho com muito choro, gritos e tapas (dela em mim, claro, e como toda criança, depois não queria sair haha). Porém, ela deixava claro em algumas de suas frases, a dor que estava  sentindo em seu pequeno coração, por não entender o que estava acontecendo com seus pais, por ficar dividida entre uma casa e outra, entre duas “babás” ( o pai tinha uma nanny), por ver a mãe com pouca frequência, entre outras coisas.
   
   Antes mesmo de ser psicóloga, eu já acreditava que as crianças eram “esponjinhas”, absorviam tudo dos adultos! E essa era a minha mais velha! Apesar da intensa rotina de trabalho da mãe, que a deixava meio ausente, a mais velha aprendeu o comportamento explosivo, “puxou” MUITO da mãe, e não era à toa que as duas viviam se estranhando.     Inteligentíssima, ela amava cozinhar e decidiu por conta própria aprender português em um site (não me lembro qual era), pois falava que um dia queria vir para o Brasil! Assim como a pequena, ela não gostava de tomar banho, escovar os dentes e os cabelos! E que cabelo lindo ela tinha! Teve uma época, no verão, que ela ficou 3 semanas sem tomar banho, e o "jejum" foi quebrado após o pai falar que a levaria para um “date”! E ela foi linda, de banho tomado, escovinha, unhas feitas e uma maquiagem bem leve! 
   Certa vez, fizemos uma torta de frango brasileira! Eu somente orientei e ela fez! A cozinha ficou virada, e ela não queria ajudar a limpar, e como se não bastasse, jogou um pacote todo de farinha de trigo no chão e falou: limpe, você é paga para limpar a minha bagunça! Lembro também de algumas vezes que, sem motivo algum, ela bateu na pequena, não deixava ela brincar na cama elástica, e ensinava a pequena a falar palavrões e aquelas palavras mais pesadas que comentei.

   É, ela realmente era inteligente, e acredito que o meu rematch tenha sido, em partes, "armação" dela, não para me prejudicar, mas para que ela conseguisse ir morar com o pai!    Aconteceu o seguinte: uma bela noite, a host resolveu sair com as amigas. A princípio, eu ficaria com as duas meninas, mas a mãe das amigas da mais velha a convidou para um sleep over de despedida, pois elas iam de mudar. A hosta deixou ela lá de tarde e eu ficaria só com a pequena! Fomos no parquinho da praia, depois jantamos no nosso restaurante favorito (friendlys, que saudade daquele lugar). Liguei para a mais velha, avisei que colocaria a menor para dormir cedo, e caso ela quisesse vir embora, teria que ser agora! Fui praticamente linchada, e tranquilizada pela mãe das meninas, falando que tudo estava bem! Segui com meu plano original de banho, historinhas e cama; até que as 22:30, meu celular toca. Era a mais velha, querendo vir embora. Conversei, falei que a pequena estava dormindo e que não teria como ir. E ela falou que não se importava, que eu era paga pra isso, e que me virasse, que colocasse a menor no carro dormindo, pois ela queria ir embora! Conversei com a mãe das meninas para saber se tinha acontecido alguma coisa, e ela disse que também não estava entendendo nada.
   Peguei a pequena dormindo, coloquei no carro, mas o gps não ligava de jeito nenhum. Eu nunca tinha ido na casa dessas amiguinhas, que ficava em uma cidade vizinha, 30 minutos dali. Quem me conhece sabe como sou perdida, e a chance de eu me perder com um mapa e orientações do google eram certas! Liguei para ela, expliquei a situação e complementei dizendo “aproveite, suas amigas vão se mudar! Depois você vai sentir saudades!!"  Para a minha surpresa ela “topou” de imediato e falou que eu estava certa!    Ufa, né! Será?!
   Poucos dias depois, a host mandou uma mensagem pedindo para que eu ficasse em casa, pois ela queria conversar! Ela NUNCA tinha me mandado nada parecido em 7 meses lá, achei esquisitíssimo, mas jamais imaginei o que estava por vir! Aí veio a bomba: REMATCH! Aquela vez que eu não fui buscar a mais velha na casa das amiguinhas, ela ligou para o pai, chorando, dizendo que eu não podia ir pegá-la, e ela queria ir embora, e a  mãe também não podia, pois estava “na balada”! Lembrando: eles estavam brigando pela guarda das crianças, e é claro que o pai usou essa situação a seu favor! Se foi de propósito eu não sei, mas eu sei que foi genial! 
   Algumas vezes, quando estava arrumando a mala, a mais velha foi me ajudar, conversar, e notei que em momento algum ela fez aquilo para me prejudicar. Entrei em rematch e tive dias difíceis com a host, pela situação delicada do processo de guarda, mas não tenho dúvidas que ela (se é que foi proposital) não teve intenção de me ferir. A host acabou colocando na pauta de rematch da cultural care que eu não estava apta para cuidar de crianças, tive que sair da casa, pois a situação ficou insustentável, ela me proibiu de interagir (leia-se ver) com a pequena, que vivia me chamando e dizendo que sentia minha falta. Fui para a casa de uma LCC e fui acusada várias coisas que não fiz, mas que no fim, já tinha virado piada (pois as acusações da Host eram muito infundadas).

   Hoje eu não sei como estão as meninas. Recentemente vi fotos em uma rede social e meu coração se encheu de alegria ao vê-las com o pai! Se ele ganhou a guarda eu não sei, mas por ficar 7 meses com elas eu sabia onde a felicidade delas morava, e era ao lado do “daddy” delas! Não tenho absolutamente nada contra a minha ex host, era uma pessoa difícil, e talvez, por trás de adultos difíceis também há emoções, situações ou pensamentos que eles não saibam como resolver.
  

   Depois de 3 semanas eu voltei para o Brasil! Comi o melhor arroz com feijão sem ser de lata do mundo e tive minha primeira crise em uma loja de departamentos com os preços abusivos das coisas daqui, abracei pai, mãe, tios, tias, primos e minha avó! Ah, minha avó (as duas, na verdade), que saudades que eu senti delas!  Passei boa parte do mês na cidade delas, ouvindo as piadas e “causos” de uma, sua risada e sua voz rouquinha, e conversando sobre assuntos diversos com a outra. Meu ano acabaria no dia 04 de janeiro de 2010, e pelas normas do programa, eu teria direito a 1 mês de férias (que já estavam programadas - mas não pagas). 
   No início de janeiro de 2010 minha avó materna deu entrada no hospital, e depois de muita luta, ela foi morar com Papai do céu! Foram horas, dias preciosos que passei com ela, e pelos quais só tenho a agradecer! Não sabemos o dia de amanhã e hoje sou sim imensamente grata pelos meus 9 meses de AU PAIR, por todo aprendizado, crescimento e amadurecimento, mas principalmente pelos “3 meses emprestados” para viver ao lado da minha família, especialmente da minha vó! #Saudades



    Até o próximo dia 02 (que pasmem, será 2017), beijos!! 


Júlia Balieiro Benedini - Psicóloga

(CRP: 08/14965)



PS- este post acabou tomando um rumo diferente do que imaginei, me deixei levar pela emoção do momento e gostei; espero que gostem também! Próximo dia 02 seguem as DICAS de como lidar com CRIANÇAS DIFÍCEIS, e como ensiná-las a lidar com as emoções que ainda não conhecem, técnica que usei com a minha pequena e que deu super certo!

PS ² : espero que tenha ficado claro que a surpresa que tive no pós au pair foi o TEMPO DE QUALIDADE que pude passar com a minha avó; tempo este que eu não teria, se tivesse completado o ano de au pair! <3 
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2 comentários:

  1. Me arrepiei toda com esse final! Parabéns por toda garra e sabedoria, Julia. Pretendo ser psicóloga infantil e vou para os EUA como au pair em 2018, daqui pra lá, todo dia 02 minha presença aqui será garantida :D. Você tem um blog, canal no youtube, página no facebook...? Gostaria de saber mais sobre sua história como au pair. Bj!

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    1. Oi Whênia!! Tudo bem?? Poxa, que bom que você gostou!! Fico feliz, de verdade!!
      Tenho página e canal sim; comecei faz pouco tempo! https://www.facebook.com/docesmemories/

      E futuramente seremos colegas de profissão! O au pair será, sem dúvidas um aprendizado enorme pra ti também! Conte comigo para o que precisar!!
      Beijos!! Espero você lá na minha página!! <3
      Júlia

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