Tem muita gente que diz "nossa, que sorte você tem!" quando conto sobre alguma viagem que eu fiz, sobre as minhas experiências como Au Pair ou como consegui a cidadania e um trabalho na minha área aqui na Itália. Mas não gosto dessa palavra colocada assim. Se é sorte, fica parecendo que não depende da gente, que temos que ficar esperando a tal sorte acontecer ou que outras pessoas "sem sorte" não têm a mesma chance de conseguir o que desejam.
Para encontrar a família anfitriã ideal, por exemplo, precisei ter muita paciência e horas de dedicação para criar um perfil completo e interessante, escolher as minhas fotos, enviar e responder mensagens sem copiar e colar. E daí a família se decidia por uma outra pessoa, ou eu decidia que não era a família certa pra mim. Desilusão sim, mas não tempo perdido! Nesse caminho a gente também amadurece as razões pelas quais quer ser Au Pair, aprende a se colocar em uma melhor maneira, ou descobre que certas características de uma família anfitriã não cairiam bem. Você também fica craque nas entrevistas e já sabe analisar melhor o perfil de uma família, se torna mais focada(o).
Até que depois de conversar com dez famílias diferentes por alguns meses, finalmente aparece aquela que tem tudo a ver com você, que te acompanha em um ano incrível e experiências muito melhores que você podia esperar.
Isso é sorte?
Isso é sorte?
Também viajei por 7 países diferentes, em um mochilão que fiz sozinha de trem pela Europa, no meu último mês de Au Pair na Alemanha. Juntei o que pude do meu salário de Au Pair de um ano (cerca de 260 euros ao mês), achei uma promoção do Interrail, economizei cada centavo, resistindo à ofertas na H&M e outras bobeiras que queria comprar (papelaria é minha perdição), e até saí menos com os amigos. Planejei muito a viagem, fiz quase sempre couchsurfing e não comi fora, comprava alguma coisa nos mercados das cidades. Foi uma viagem intensa, mas maravilhosa, com muitas descobertas, novas amizades e sonhos que se tornaram reais.
Mas não foi sorte.
Mas não foi sorte.
Eu acredito que uma pessoa pode conseguir quase tudo o que quer, se corre atrás e se empenha pra isso. Como diria a minha tia e madrinha "só não consegue quem desiste". E pode até ser que não dê certo na primeira ou na segunda vez, ou que leve bem mais tempo que imaginou, mas olha, isso também te deixará melhor preparado para próximas oportunidades!
Um outro exemplo é quando fui selecionada para ser participante de um reality show em Taiwan. Sim, vocês leram bem. Naquela época (maio de 2012), eu tinha acabado de perder um concurso da Samsung para ser blogueira nas Olimpíadas de Londres por uma semana. Estava supertriste porque tinha terminado em primeira colocada pelo voto do público, mas a empresa selecionou outros dois finalistas. Eu tinha gravado e editado centenas de vídeos, consegui o apoio da torcida do Paraná Clube, criei uma campanha online, estava superanimada e quase certa que conseguiria. Não deu.
Quando uns dois meses depois um amigo me falou que estavam selecionando estrangeiros para um programa de televisão da Discovery Channel em Taiwan, eu pensei em deixar pra lá. Não queria "perder" de novo, não queria criar falsas esperanças pra mim mesma. Mas como já tinha todo o material gravado (podem ver o vídeo da candidatura aqui), mandei tudo pra eles. Duas semanas depoiss fui convidada para a aventura mais incrível da minha vida, quando passei 4 meses no país em uma competição esportiva e cultural, all inclusive.
Sorte? Não.
Foi correr atrás, cair, levantar, chorar, ter incertezas, não se achar capaz ou boa o suficiente, achar que pode ser uma bobagem, um erro, ter medo de não conseguir de novo.
Poucas pessoas me apoiaram ou sonharam comigo. Posso contar aquelas que acreditaram nos dedos de uma mão. Na maioria das vezes nem por maldade, mas porque pareciam coisas irreais para elas. Queriam que eu não sonhasse muito alto para não me machucar.
Aliás, sempre fui considerada "pequena, fofinha e dócil" pela minha família e amigos, como aquela coelhinha do Zootopia (não sei se assistiram, mas não vai ter spoilers). E não é fácil ser julgada(o) pelas aparências ou ter que escutar do que você é ou não é capaz de fazer na vida. Mas é sensacional quando você descobre tudo aquilo que você é capaz, como viver longe de casa, cuidar de crianças, viajar loucamente!
Então mesmo que a sua essência seja mais introvertida, indecisa, cautelosa ou sensível (como a minha), nada te impede de enfrentar, brigar e correr atrás do que você quer!
E fazer tudo isso do seu jeito mesmo, sem depender da sorte!
Não foi sorte e não foi sempre fácil e divertido. Também lamento informar que essa é uma constante na vida de quem vive de verdade: novos desafios, novos medos, derrotas e vitórias!
Meu último grande desafio vem sido a publicação do meu livro, o Diário de Au Pair na Alemanha. Já estou na fase de diagramação e ainda tenho medo de não dar certo ou de ninguém gostar. O problema é que não tentar seria ainda mais complicado pra mim, então a única solução é enfrentar mesmo.
Um abraço a toda(o)s e até a próxima!
Um abraço a toda(o)s e até a próxima!
Que linda, parabéns Ana! Também acredito nessa filosofia, não podemos desistir!
ResponderExcluirObrigada Marjane! E muito sucesso em todos seus projetos tambem! S2
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