Toda vez que converso com alguém sobre a minha experiência morando fora, eu compartilho - na maioria das vezes - todo o lado bom e feliz. Algumas perguntas são sempre as mesmas como “o que você fez pra ter duas famílias ótimas?”, “como você conseguiu fazer o curso X na universidade Y?” ou até mesmo “como você conseguiu juntar $$$?”. O que ninguém para pra pensar é que toda escolha vêm acompanhada de uma renúncia. Depois de morar com duas famílias diferentes (primeiro e segundo ano de programa) e compartilhando grande parte dessa experiência nas redes sociais, seus seguidores acabam sabendo grande parte dos seus likes e dislikes, suas viagens, as festas que você frequentou, os moços que pagou, alguns perrengues e algumas vezes até sua rotina de trabalho. O que mais me chama atenção disso tudo é que são poucas as pessoas que realmente sabem dos bastidores de tudo isso. E não falo apenas dos momentos bons não... A interface dos momentos mais doloridos é quase um mito pra quem está de fora.
Frequentemente eu recebo mensagens ou interações de posts com comentários de “você deu sorte com as suas famílias”, “você está aí de boa vivendo do exterior”, “você fala que chora, mas ao menos chora ganhando em dólar”... Parece piada, mas acontece. E MUITO! Em um post recentemente postado, eu falei em como QUEM a gente tem na vida, ajuda essa jornada a ser mais leve e hoje, depois de uma semana do cão, decidi compartilhar algumas reflexões que me ocorreram.
Quem me conhece sabe que eu sou a fã número 1 da minha hosta - que nunca foi hosta. Desde o dia zero, lá em 2018 na procura de um match pra extensão, começamos a construir uma relação que tem dias que eu até duvido que ela seja real de tão saudável, bonita e recíproca que é. Muita coisa tem acontecido no último ano e a “silver lining” que todo o caos da pandemia causou é que nunca, em tão pouco tempo, eu pude conhecer, confiar e compartilhar a vida tão abertamente com alguém como com ela.
Por que você está dizendo isso, Letícia? Eu tive uma semana do cão. Sabe aquele dia que você acorda bem humorada, feliz e cheia de energia e o mundo tá todo do avesso e te leva junto? Teve na segunda-feira. E aquele dia que você acorda na maior paz de espírito e quando sai do quarto a casa parece que está em chamas? Teve na terça-feira. Tem também o dia do “whatever! Hoje vou só existir?”. Esse foi na quarta. Quinta-feira foi um Deus nos acuda. Acordar com low energy e ir pra cama com o 1% força que você estava guardando desde o meio dia pra aguentar a jornada. Sexta é sexta né, mores? Mas isso não quer dizer que será fácil e diante disso tudo, o que me fez fechar a semana com um sorriso no rosto e coração calmo, foi a liberdade que ganhei em poder conversar abertamente sobre essas coisas que a gente até tenta ignorar no dia a dia, mas que impactam negativamente na execução das nossas tarefas.
Acredito que a quinta feira foi o dia mais difícil que tive. Tudo um caos, as crianças fora de órbita, remote learning, tarefas de casa, almoço, laundry, play dates.. tudo num dia só. Tive até um copo de leite sendo derramado em cima de um notebook - que Deus o tenha. O fato é: quando percebi que estava no meu limite eu simplesmente pedi ajuda. Como? Uma mensagem de texto. Depois de contar até 10 por mais de 5 vezes em um período de 4 horas do meu dia eu já sabia que não iria conseguir terminar o dia sem uma força externa. Peguei meu celular e digitei: “São apenas 11 horas da manhã e eu poderia ir dormir de tão exausta que estou. Ou até mesmo correr uma maratona de 15 milhas pra ver se tirava toda essa exaustão de mim. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e sinto que não estou dando conta...” Enviei para a mãe das minhas kids.
Em questão de dois minutos, a mãe veio até mim, me abraçou e disse “Tem dias que tudo nos coloca à prova e você está mostrando o quão emocionalmente inteligente você é por estar pedindo ajuda! Obrigada por respeitar o seu limite. Por ser humana!” Isso me quebrou ao meio de um jeito que há tempos não quebrava. Eu sorri e meu olho encheu de lágrima. Tirei alguns minutos pra respirar e voltar ao eixo. No fim do dia, conversando com ela durante o jantar, contei do quão difícil estava sendo a semana, as crianças, a vida no geral... Conversa na qual sempre temos, mas essa foi realmente como um pedido de socorro. Eu fui pra cama pensando nessa conversa e comecei a escrever uma nova mensagem pra ela, dizendo que eu me sentia muito feliz em ela entender esse lado difícil da rotina e mais ainda por ela estar ali, lado a lado, me ajudando a ser melhor e aprendendo sempre.
Eu sei que muitas vezes - se não na maioria - as famílias não dão a mínima pra nossa exaustão física e mental, mas acho importante dizer que elas existem e fazem parte da nossa luta diária. Fico feliz sempre que ouço relatos onde au pairs tem um suporte emocional da família.
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Minha hosta - vulgo “Anjo da guarda” |
O que gostaria mesmo de compartilhar é que a família sendo ótima ou não, saiba que é de extrema importância e de tamanha inteligência emocional, pedir ajuda quando você está no seu limite. Alguns dias serão como sonhos e outros pesadelos. Para todos. Não tem como fugir. Por isso lembre-se: nada e nem ninguém é mais importante que VOCÊ nessa jornada. Speak out and enjoy the journey!
Um beijo e um XÊRU! Até mês que vem! 🥰
Oi Leticia, ah que linda a sua ralação com sua host!
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