Pessoas que largaram tudo para se aventurar nesse mundão de Au Pair!

25 novembro 2013

Uma Nova 26!

Acordei esta manhã atrasada e cansada. Eram quase 8 horas e eu deveria estar no trabalho pronta para começar exatamente às 8h. Ótimo! Já vou começar a semana bem ¬¬. Descansei o fim de semana todo e dormi bastante, até mais do que deveria. E ainda acordo cansada sem saber exatamente porque.

Penso que devo ser diferente e considero ter algum problema. Quando era au pair também era assim que me sentia. Trabalhava a semana toda, descansava o fim de semana todo e na segunda-feira acordava com a sensação de “ai! E lá vamos nós para guerra”. E o pior de tudo era que eu amava tudo sobre minha experiência fora de terras brasileiras.

Em Den Haag
Embarquei para a Holanda como au pair em meados de 2009 e retornei conforme planejado no ano seguinte. Morei com uma família linda e maluca e passei poucas e boas com eles. Não havia pesquisado nada sobre meus direitos, deveres e o que mais pudesse ser relevante para o sucesso do meu intercâmbio. Fui na cara e na coragem tendo como base os depoimentos das au pairs anteriores da mesma família.

 Confiei nelas cegamente e já adianto que elas nunca mentiram... mas nenhuma de nós se quer pensou que a rotina e as necessidades dos hosts poderiam mudar (e MUITO) de um ano para outro... e logicamente foi o que aconteceu quando cheguei.

Para citar as mudanças mais drásticas: A família estava se mudando para outra cidade onde era preciso que a au pair dirigisse; o host havia arrumado um novo emprego no norte do país (passando um mínimo de 3 dias seguidos por lá); a menina mais velha havia sido diagnosticada com hiperatividade, dislexia e déficit de atenção e estava tomando remédio pesado.

Com a mesma família morei em três cidades diferentes: Den Haag, Scheveningen e Wassenaar. Quando tivemos nosso match eles moravam em Den Haag, próximo a tudo onde eu poderia levar às crianças para a escola e atividades extra curriculares sempre de bicicleta. Não que eu não dirigisse, eu tinha carta... mas pavor de dirigir naquela época. E deixei bem claro isso aos hosts. Ou melhor... Um dos meus erros era achar que estava falando com os dois hosts, quando claramente conversava por e-mails apenas com o Host Father. A Host Mother estava sempre ocupada, mesmo para me conhecer no Skype e não tinha paciência para lidar comigo e em combinar as coisas. Eu achei normal...

As au pairs anteriores tinham poucos serviços de casa. Acordavam com os hosts e colocavam o café da manhã para todos, aprontavam as lancheiras da escola e estavam livres até meio dia, quando deveria buscar o mais novo na creche. Depois buscavam as meninas na escola e ficava com eles até às 17hs, quando o host retornava a casa. E estavam livres. O host adorava cozinhar e preparava a janta, punha a mesa e cuidava de tudo referente à casa. O próprio host havia me dito que tinha as sextas-feiras livres e deixava suas au pairs livres também para viajar... e eu achei o máximo! Lógico!

Cheguei na Holanda em junho de 2009 e por um mês curti essa rotina conforme havia sido combinado comigo por e-mail. Mas eu já havia percebido que tudo iria mudar, mas não me preocupei muito... afinal, tudo havia sido combinado por escrito... Eles estavam construindo sua nova casa em Wassenaar, que deveria estar pronta em julho. Com isto em vista, correram e conseguiram alugar a casa em Den Haag (que estávamos morando) para uma outra família a partir de julho. Pedreiros são pedreiros em todo mundo, e não diferente do que acontece no Brasil, eles não estavam nem com metade da casa pronta na data que deveríamos mudar... e acabamos sem ter para onde ir e os hosts com passagens marcadas para passar um mês de férias na Croácia.

Sorte que uns amigos dos meus hosts tinham uma casa para alugar ao lado da deles, na praia de Scheveningen. E para lá nós fomos. Mandamos as crianças para a casa da avó e fizemos toda a mudança, além de termos feito faxina na casa que estávamos deixando em Den Haag (e na nova!). Foi uma semana exaustiva. Era empacotar, desempacotar, limpar, esfregar e ainda ter de lidar com chuveiro gelado pois a nova casa não era habitada a anos... Não passei por isso sozinha, fiz tudo ao lado dos hosts como em uma família mesmo.


Em Keukenhof, parque das flores
 Uma parte de mim estava feliz, pois foi um momento que nos uniu muito, pois passávamos o dia trabalhando na casa e depois jantávamos juntos tomando vinho e víamos filmes. Já uma outra parte de mim esperava por uma pequena compensação quando tudo estivesse pronto... Essa compensação não veio da forma que eu havia imaginado, mas também vejo hoje que eles não deixaram meus esforços passar em branco, me levaram para sair à noite com eles e obviamente não se incomodavam se eu passasse mais tempo descansando após ter ralado lavando as paredes da casa. Também não me senti com direito de cobrar nada sendo que eu não havia conversado sobre isso antes e decidi ficar calada.

As crianças voltaram da casa dos avós e eles foram todos à Croácia. E eu, sem ter feito nenhum amigo ainda, sem conhecer nada (entrando no meu segundo mês de Holanda) tive minhas férias. E fui viajar. Sozinha. Foi apenas após a retomada da rotina que os problemas começaram a aparecer, as crianças já estudavam na escola da cidade em que deveríamos ter ido morar, Wassenaar. E o Host Father nunca havia comentado com a Host Mother que eu tinha medo de dirigir... ele também nunca havia comentado que eu não sabia cozinhar, que estava disposta a aprender, mas que não tinha pratica.

Fomos viajar para a Bélgica e os hosts aproveitaram para me deixar dirigir no caminho de volta. Sim, de carro com toda família, dirigindo a no mínimo 130km/h (eu nunca tinha passado de mais de 45km/h no Brasil...) na estrada. Meu coração a mil... Em casa tivemos nossa primeira discussão, quando a host começou a dizer tudo que sentia naquele jeito curto e grosso dos holandeses. Seu marido, sua mãe e seu irmão me defendiam, o que a deixava cada vez mais brava. E eu chorando, quieta, segurando a mim mesma sem responder nada, mesmo quando teria algum bom argumento para dar. Fiquei muda, com medo, assustada. A única coisa que disse era que eu havia sido sincera nos e-mails, quando disse que não queria dirigir porque tinha medo e que não sabia cozinhar. Que não me importava em fazer tarefas de casa, mas que ninguém havia me falado sobre isso em nenhum momento, nem depois de eu ter chegado na Holanda. Enquanto o host havia combinado comigo que eu não faria tarefas de casa, a host esperava que eu as fizesse. Mas ninguém nunca me disse nada.

Naquela noite eu chorei muito e ouvi muita coisa desnecessária. O irmão da host me levou pra passear e espairecer, enquanto o host father e a avó conversavam com ela. Eu me sentia muito mal, durante toda a confusão ficava pensando que pelo menos alguém deveria ficar do lado dela, pois todo mundo me defendendo... a host ficava cada vez mais brava! Ficamos decididos que eu levaria as kids de ônibus à nova escola e às atividades a tarde e que pouco antes de sair do emprego a host me ligaria e me daria umas instruções para o jantar. No começo cozinhamos juntas. E foi num desses momentos que ela se abriu para mim a primeira vez. E eu pude entender melhor seu lado. 

Ela me confidenciou , depois de toda aquela confusão, que havia pensado em se separar do marido (!!!), porque em nenhum momento ele havia pensado nela ou nas necessidades dela, sendo que supostamente ele era aquele que mais a conhecia (sabia que ela detestava cozinhar, sabia que ela detestava cuidar da casa, etc) e que ele realmente havia combinado coisas comigo que estavam muito distantes da realidade da família. Eu concordei, cheguei a perguntar se ela queria que eu procurasse outra Host Family, mas enquanto ela cozinhava comigo, ela quase sorriu e disse que deveríamos tentar desse jeito, já que não tinha sido nada culpa nossa. Aceitei.

Não digo que tudo melhorou depois da nossa conversa e ficou às mil maravilhas. Mas muitas coisas mudaram e pudemos acertar o passo. Eu usava o ônibus com as kids para tudo e se fosse perto, a bakfiets. Calculava os horários direitinho para não chegar atrasada e antes de sair do trabalho, a host me ligava para falar do jantar e eu já começava a fazer tudo, para que quando ela chegasse tudo estivesse pronto (ou quase pronto!). Também concordamos que com as tarefas de casa meu horário tinha aumentado demais, então eles também aumentaram meu pocket Money (na época eu achei ótimo, hoje vejo que mesmo assim era muito pouco pelo tanto de horas que eu trabalhava!).  

Depois que voltei ao Brasil, com a experiência de ter feito tudo errado, fui procurada por uma agência holandesa de au pairs. Que gostaria de usar a minha experiência para guiar e preparar as meninas, justamente dar a elas todo apoio que eu não tive quando fui. A idéia me deixou animada e eu logo comecei a ter contato com as meninas da agência, dando todo tipo de apoio e conselhos. Minha experiência e as dificuldades que vivi ajudaram muito a entender os dois lados da moeda. E também a manter a cabeça fria para argumentar, organizar a mente com argumentos lógicos. Justamente como eu não consegui fazer quando precisei. Hoje parece tudo mais fácil... mais tangível e eu sempre procuro colocar um pouco do que aprendi em cada conversa que tenho com minhas meninas, para que elas não precisem aprender da mesma forma que eu.

Então, a partir de hoje, os posts do dia 26 serão uma conversa minha com minhas meninas (através do blog, com todas vocês!) e também bastante da minha vida maluca de au pair, de cada erro que cometi e cada furada em que me meti e dicas práticas para que você não passe pela mesma coisa... e se estiver passando, para que você saiba que existe luz no fim do túnel e que você pode sim fazer limonada com esses limões que a vida teima em lhe oferecer ;)

Kusjes a todas e até o próximo dia 26 J
Eu, com minha mãe, meus hosts e minhas dutch kids!

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Nadja Kari

8 comentários:

  1. adorei a tua historia e a proposta pro blog :)
    e que lindas suas kids!!

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  2. Que emocionante sua história!! Foi passando na minha cabeça tipo uma novela acontecendo... super legal :)
    O bom é que entre altos e baixos, ficam os aprendizados... e esses são sempre bem vindos, não é mesmo!!
    Parabéns pelo post... próximo dia 26 estarei aqui ;)

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    1. Obrigada Juh!!!! O próximo já até preparei de tão empolgada!!!! ;)

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  3. Que novela, menina! Adorei seu post. Bjs <3

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