Sentir-se
desamparado, perdido, mal adaptado, ter um choque cultural horrível
(especialmente nos 3 primeiros meses) e até aquela saudade de “casa” no início
do intercambio é perfeitamente normal. Mas e quando percebemos esse mix de
sentimentos no momento que voltamos para o Brasil?
Meu nome é Júlia,
sou ex intercambista, psicóloga e hoje gostaria de conversar com vocês sobre um assunto bem
comum não só para nós, que fomos au pairs, ex intercambistas, mas para (arrisco
dizer) todos que já moraram fora, e que me assombrou durante um bom período
depois que voltei para cá.
Dizem que viajar é
bom, mas voltar para casa é ainda melhor, porém nem todo mundo, ao retornar, consegue
sentir que a “casa” é o Brasil.
Lembro que quando
meus pais me buscaram no aeroporto depois de 9 meses nos Estados Unidos, tudo parecia BEM
estranho e diferente. Os parentes que estavam me esperando na casa dos meus
tios estavam diferentes, a cidade parecia diferente, meus pais (com quem eu
conversava todos os dias nos meses de intercâmbio) estavam diferentes e
principalmente EU estava diferente, tinha mudado (e muito).
Quando eu
embarquei, deixei minha irmã grávida, e agora ela tinha um bebêzinho lindo nos braços (e eu era titia)! Meus
pais, além de pai e mãe eram o vovô e a vovó, meu irmão estava passando uma temporada fora do Brasil e eu experimentaria a sensação de ser "filha única" pela primeira vez na vida. Foi
nessa época também que eu tive que “engolir de vez” a mudança de
Marília (onde estudei e morei por 4 anos) para Curitiba, e até meus cachorros
Teddy e Bionda estavam diferentes, não tinham tanta energia e já exibiam seus
primeiros pelos brancos no rosto. Eu, além de aprender inglês e a dirigir, havia
aprendido coisas muito mais profundas, pois o amadurecimento que temos durante
o tempo de intercambio (ou quando moramos fora) é enorme, nítido e visível.
A (re) adaptação
acaba sendo difícil. Ir para um país novo é diferente pois tudo é novidade, e
temos que aprender e nos adaptar a essas novidades. Voltar para o Brasil foi
complicado pois nada era tão novidade assim, e ao mesmo tempo, tudo tinha
mudado, eu tinha mudado, minhas ideias eram outras. Quando a
gente “anexa” uma nova cultura à nossa, a forma de ver o mundo fica diferente,
e isso não é “metideza” não (até porque eu fui au poor, né, mores – quem morou
fora sabe do que eu estou falando)!
É gente, tanto não
é metideza, que esse sentimento de não pertencer mais ao lugar de origem, de
culpa, de querer voltar e ficar ao mesmo tempo tem nome: síndrome do regresso,
e segundo Décio Nakagawa, psiquiatra que nomeou a síndrome, pessoas que moraram
fora podem levar em média 2 anos para se (re) adaptarem a terra natal, já que a
vida no exterior proporcionou experiências até então desconhecidas e que,
agora, de volta ao país de origem não poderão ser revividas. Claro que não é todo mundo que sente ou vive
isso, mas além de bem comum, a síndrome do regresso é REAL!
Para você, que
está voltando, ou que voltou e principalmente que se identificou com esse texto
gostaria de dizer que tudo isso faz parte de um processo de (re) adaptação, e
que você (principalmente agora, depois do intercâmbio) se conhece melhor que
ninguém e sabe aonde o seu calo aperta. Mesmo sendo natural, existem
profissionais que podem te ajudar a lidar melhor com essa dor e principalmente,
e fazer da sua volta para casa algo mais simples, menos doloroso e mais satisfatório!
Lembrem-se sempre da importância das metas. Assim como é importante ir para o intercâmbio com metas pré definidas, voltar com novos
objetivos e desafios faz toda diferença nessa etapa, bem como não abandonar os
hábitos que você adquiriu e aprendeu a gostar durante o intercâmbio (como viajar, tomar um café com
bolo no final e tarde, por exemplo). E é claro, hoje em dia a tecnologia joga a
nosso favor, e podemos manter contato com todos os amigos internacionais que
fizemos, e também com a hostfamily!
Finalizo
com essa frase, pequena, mas que adoro: Entrego, confio, aceito e agradeço (até
bem adequada para essa época de pós thanksgiven, natal e final de ano né)?!
Agora só vejo
vocês no próximo ano! Desejo a todos um natal cheio de luz, paz e esperança e
que em 2018 possamos continuar a realizar o que começamos em 2017, e que
sejamos nós a mudança que esperamos ver no mundo! Vamos fazer a diferença!
Abraços e beijos para
todos,
Júlia B. Benedini –
Psicóloga (CRP: 08/14965)
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