Eu costumo dizer que o au pair é um caminho sem volta por
vários motivos: o mergulho em uma cultura que não é sua, mas passa a ser parte
de você nos mínimos detalhes, a língua, que não é a sua, mas que vira e mexe
você se pega soltando um “so far” daqui ou empurrando as portas de locais públicos
ao ler “puxe”, as amizades, claro, que por mais que você perca o contato sempre
serão parte da sua vida e história, a hostfamily, que boa ou ruim fez parte de
todo esse processo e principalmente eles, as “estrelas” desse intercâmbio: as
hostkids!
Para quem ainda não me conhece, meu nome é Júlia, fui au
pair em 2009 e hoje sou psicóloga e me divido entre os atendimentos clínicos e
orientação psicológica online para intercambistas (olha aí outro sinal de que o au pair não
sai da gente tão fácil lol).

Essa noite eu sonhei com a minha M*, e ela estava tão
pequena como no dia que fui embora de sua casa, no auge dos seus 3 aninhos
(hoje provavelmente – se fiz as contas certo – ela tem 13 anos).
Enquanto ela tirava a sua nap, eu conversava com a minha
família no Brasil, e as conversas eram sempre deliciosamente interrompidas
pelos passinhos (que eu já escutava lá de cima), por uma carinha “japonesinha” amassada,
(ela é descendente de coreanos, mas descrever os olhinhos puxados ficou mais
fácil assim) e um cabelo liso, cheio de nós todo amarrotado acompanhado de um
sorriso e uma vozinha rouca dizendo: Hi, Julia!
Você chegou ao meu lado, puxei você para sentar na cama, deu
um tchauzinho tímido para o notebook e logo pediu: I wanna see baby Isaque!
Ela amava ver meu sobrinho, que naquela época tinha meses,
hoje já tem 9 anos!
Não lembro muitos detalhes do sonho, mas lembro com muita
realidade desses que contei aqui para vocês, e esse sonho, porém em cenários
diferentes (brincando no parquinho, playdates, praia, ou pulando no trampolim)
se repetem com bastante frequência. M* foi a kidda com quem eu mais convivi
durante o meu período de intercâmbio, e lembro dela com muito carinho e
compaixão (era uma criança “difícil’ quando cheguei lá, e com o passar do tempo fui entendendo a
dinâmica da casa e vendo como aqueles comportamentos eram sentimentos e pedidos
de socorro que ela, tão pequena, não estava sabendo
expressar e principalmente
lidar), e mesmo assim, ela e a irmã são as únicas com quem não tenho nenhum
contato. Ainda antes de ir embora, O*
(que na época tinha 10 anos – e me sinto velha em pensar que hoje ela já tem 20
anos!! OMG) me deu um cachorrinho de pelúcia e falou: para você não se esquecer
da gente, e quando olhar pra ele, lembrar de nós! Obviamente eu não preciso
dele para lembrar delas, as recordações aparecem em situações muito pequenas,
como por exemplo, quando minha sobrinha coloca um vestido rodado e sai rodopiando pela casa, “just like” M* fazia com aquele vestido azul velho manchado e que
ela não queria tirar nunca (e só depois eu fui entender que talvez ele
significasse tanto porque havia sido da mãe, quando era pequena).
Daqui exatamente 1 mês estarei completando 10 anos de au
pair! 10 anos, e como vocês podem ver, ele continua presente no meu dia a dia!
Enfim, é um caminho sem volta, e isso não é ruim! Você vai
lembrar para sempre daquela criaturinha que não é sua, mas que você criou, amou
e cuidou como se fosse, dos momentos, amizades, idioma, da casa, das viagens, risadas, lágrimas, crises, baladas, enfim, de tudo!

E é com esse post que me despeço do blog! Sim,
coincidentemente sonhei com a minha M* no
meu último post! Na verdade, estava planejando falar sobre outro assunto, mas depois
desse sonho, não tive dúvidas que o tema
tinha que ser esse!
Sou muito grata à esse blog (e às meninas) que me acolheu,
me permitiu contar um pouco da minha história e dividir um pouco da minha visão
do intercâmbio durante esse período. Sou grata também por ter podido
compartilhar um pouco do meu trabalho atual (psicologia) dentro do au pair,
como eles se complementam e como a psicologia (apesar de algumas agências
fecharem os olhos para isso) é fundamental no processo de intercâmbio (para nós e para as famílias)! Mais uma
vez, gratidão, meninas!!
E para quem quiser me acompanhar nas redes sociais, meu
insta batepapocompensamentos_ , tem
também a página no face: Bate papo com pensamentos e o canal no Youtube: Bate papo com pensamentos
Seguimos juntos, pessoal, pois juntos somos muito mais
fortes!!
Beijos e abraços!!
Julia, que lindo texto para encerrar suas postagens no blog.
ResponderExcluirAchei "very relatable", e me vi lendo com os olhos cheios de lágrimas, porque a saudade pra mim também é palpável. Terminei o aupair em 2016 e não consigo "superar". Te entendo do começo ao fim, rs.
Sucesso para você e obrigada pelo texto.