Pessoas que largaram tudo para se aventurar nesse mundão de Au Pair!

22 maio 2019

Das coisas que você perde. ATENÇÃO: se você estiver de homesick, não abra!


Oi gente!

Há exatos três anos atrás esse era o dia tão esperado do meu embarque para os Estados Unidos. O dia 22 de maio sempre me traz boas lembranças e uma mistura de sentimentos. 

22 de maio de 2016: muita ansiedade, muito medo e adrenalina a mil!!
22 de maio de 2017: completando um ano de intercâmbio - another one to go!
22 de maio de 2018: dobby is a free elf!! Graças a Deus
22 de maio de 2019: tem como voltar pra 2016? Que saudades...

Quando a gente embarca pra essa loucura que é o au pair a gente só pensa nos lugares que vamos conhecer, nas pessoas que vamos esbarrar pelo caminho e no tanto de coisa nova que vamos aprender. A gente não pensa no que vamos perder... no que vai ficar pra trás e no que não vai mais estar lá quando a gente voltar do intercâmbio. E olha... ainda bem que a gente não pensa, porque se a gente pensasse... 

Durante meus dois anos de au pair, eu perdi muita coisa. Perdi minha avó - quando eu embarquei, sabia que ela poderia falecer durante o meu tempo lá, então meio que já tinha me despedido - perdi uma amiga pro câncer, perdi dois casamentos de dois primos, perdi o nascimento de alguns outros primos, perdi alguns aniversários, perdi minha outra avó pro Alzheimer - ela ainda está viva, mas não se lembra mais quem eu sou - perdi o contato com alguns amigos... Perdi muita coisa que nunca imaginei que iria perder durante esse tempo fora. 

Eu estava me redescobrindo, na maior parte do tempo não me importava muito com as coisas que estava perdendo... mas era só chegar o dia 22 que eu ficava reflexiva e fazia textão no instagram. Olha esse que escrevi quando completei dois meses nos EUA:

Eu sempre quis morar em uma casa (morei a vida toda em um apartamento). De preferência aquelas bem grandes, de dois andares, aquelas que mesmo gritando, a pessoa não consegue te ouvir do outro cômodo. Sempre quis ter um quarto só meu, pra fazer minha bagunça e ninguém reclamar. Sempre quis morar numa casa cheia de cômodos pra cada dia eu ficar em um lugar diferente. Sempre quis morar num lugar seguro, que você pode deixar suas coisas em um lugar e quando você voltar, elas vão estar lá porque pertencem a você. Sempre quis morar em um lugar que você não tem que se preocupar se fechou as portas da casa, se deu três voltas na fechadura, se travou o vidro da sala. Se... E hoje me dei conta que há dois meses eu moro nesse lugar, nessa casa... Exatamente como eu sempre quis. Mas não é minha casa. A cozinha não tem aquele cheiro de alho e cebola. Eu não acordo aos sábados ouvindo Bruno e Marrone e a dona Vera tentando cantar. A noite, eu não tenho meu irmão na cama ao lado pra conversar comigo. De manhã, eu não tenho que disputar banheiro com ninguém, aqui tem três. Eu não posso falar com alguém enquanto eu estou no quarto e a pessoa está na cozinha (ninguém vai me ouvir). Pra que ter uma casa grande se tudo o que eu mais quero é sentar no sofá da minha sala e poder ver quem está na cozinha, no banheiro, nos dois quartos e ainda poder assistir televisão? ... E nesses dois meses tentando me encontrar que eu acabei encontrando o lugar das pessoas na minha vida. Encontrei o lugar dos meus sonhos. E eles englobam as pessoas ao meu redor. Eu sempre quis tudo isso que eu listei acima, mas só quando eu tive tudo isso, que eu me dei conta que eu só queria isso se as pessoas de "sempre" estivessem ao meu lado. Em dois meses, já viajei pra cinco estados (no Brasil em toda minha vida só conheci três!) e em todos eles encontro lugares que as pessoas de "sempre" iam amar. E então aproveito por elas. Vivo por elas. Tento imaginar que um dia vou voltar lá com as pessoas de "sempre" e vamos compartilhar nossos sonhos, porque sonhar sozinho é muito chato. 
Dois meses de Estados Unidos. Dois meses descobrindo uma nova Ana Paula. Que agora passou a ser Anna. Re-descobrimento.


Quem já leu outros posts meus aqui no grupo, deve ter percebido que eu amo postar textos meus antigos. É que eles são cheios de sentimentos e retratam muito melhor o jeito que eu estava me sentindo.
Bom, agora que fui e já voltei, posso dizer que a volta para o Brasil é bem pior do que a chegada aos Estados Unidos. Só quem já passou por isso sabe. 
A volta é você se dar conta em um dia de tudo o que você perdeu. É você se dar conta que dois anos realmente se passaram e muita coisa aconteceu enquanto você estava fora construindo uma nova versão de você. É você se dar conta também que apesar de dois anos terem se passado, muita coisa continua a mesma. Mas você não! Você mudou. Você cresceu. Você é um pé que cresceu e que não cabe mais no sapato e não tem como enfiar o sapato e andar mesmo assim. Machuca. Você precisa de espaço pra continuar crescendo e mudando.
A volta é cruel. É paradoxal. Nunca vou me esquecer de como me senti nos primeiros dias de volta ao Brasil. Aquele nó na garganta, aquela vontade de chorar e de voltar, aquele desespero de voltar pro que era sua zona de conforto, mas que agora é sua zona de desconforto. Aquele sentimento de deitar na cama que foi sua há anos, mas que não parece ser mais sua. Está pequena demais pro seu tamanho de hoje. E todo mundo está feliz que você voltou. Menos você. Voltar é aprender a conviver com aquilo que parece que está faltando... mas você não sabe o que é. O que poderia estar faltando se você está com sua família? Com seus amigos? Na sua casa... 

Voltar é muito (e quase sempre) mais difícil do que ir.

Au pairs que ainda não foram, não se assustem. Ir e voltar faz parte. Tenha sua experiência.
Au pairs que foram e já voltaram. Estamos juntas! Esse sentimento melhora! Acalma seu coração.

See ya!

Ana Paula (@apaulascunha)
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Ana Paula Cunha

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Um comentário:

  1. menina, esses seus textos são tão bons que deveriam ser crime. me vejo neles.
    "E todo mundo está feliz que você voltou. Menos você." - mais real do que eu gostaria que fosse =(

    bjs, obrigada por compartilhar

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