Quando decidimos fazer esse programa geralmente nos jogamos de cabeça em tudo que é relacionado ao universo au pair. A hashtag #aupairlife é cheia de relatos, e no geral nos rodeamos de pessoas que entendem todas aquelas piadas internas, que tem o mesmo estilo de vida que o nosso e não nos julgam ao colecionar cada cupom de 1% de desconto por saber a diferença que faz no final.
Mas aí a gente volta. E se voltamos MESMO acabamos nos deparando com pessoas que não conhecem o programa. Pra quem essa idéia de largar tudo pra ser babá lá fora ganhando uma miséria não faz muito sentido. Que não falam inglês. Que nunca saíram do estado em que moram. Ou se saíram, foram passar umas férias ali de uma semaninha. E por mais que a opinião alheia não importe, é difícil se adaptar num meio onde as experiências das outras pessoas não se identificam com as nossas. "Mas valeu a pena mesmo?", elas perguntam.
E aí a gente passa a analisar, não só do ponto de vista au pair, mas de quem é de fora. Será que esses dois anos foram tudo isso mesmo que pareceram ser pra mim?
A conclusão a que cheguei é de que se hoje eu moro sozinha no Rio de Janeiro, vim com a cara e a coragem e aos poucos estou construindo minhas redes profissionais e de relacionamentos, se coloquei a mochila nas costas sem saber onde ia dar, e vou me virando como posso, se consegui fazer amigos em todas as esquinas pelas quais passo, se faço das tripas coração pro dinheiro durar até o fim do mês, se consigo transitar entre vários meios diferentes sem problemas, se consigo correr atrás de tudo aquilo que sempre quis é sim por que joguei tudo pro alto por dois anos pra ser babá.
Pode ser que realmente eu tenha perdido um certo timing profissional, a essa altura eu já deveria estar em outro momento da minha carreira. Porém o que ganhei no nível pessoal não existem palavras que descrevam. Quando dizemos que vamos cuidar de criança parece tão simples, tão pouco, tão banal. Mas quem viveu sabe a montanha russa que esse programa causa nas nossas vidas. A gente sobrevive a nevasca, a homesick, a vontade de jogar criança pela janela, a engolição constante de sapos em prol da boa convivência familiar, a gente aprende a viajar sozinha, a economizar, a fazer amigos em pessoas completamente diferentes de nós. Nossa relação com nós mesmos muda completamente depois de ser au pair. É mais que um curso de inglês. É mais que uma viagem de férias. É um pulo de cabeça e sem para-quedas em direção ao auto descobrimento. Algumas pessoas tiram de letra, outras tentam lutar contra isso o máximo que podem... Mas quem abraça o frio na barriga constante acaba não só caindo de pé, mas sendo uma outra pessoa ao final.
Não posso resumir a minha experiência como au pair aos cursos que fiz ou aos países que visitei. Claro que é incrível falar disso, e impossível não se sentir realizada com esses fatores. Mas no final das contas a pessoa que eu me tornei acaba sendo muito maior que qualquer outro aprendizado.
Acho engraçado o quão normal é ouvir que sou "muito corajosa". Corajosa de ir prum país que eu não falava a língua. Corajosa de viajar sozinha. Corajosa de largar emprego, dinheiro, família mais de uma vez. De me mudar sozinha pro Rio. De começar do zero. De novo. E mais uma vez. E novamente. Eu não sou corajosa. Muito pelo contrário... Estou constantemente me cagando de medo de tudo. Só quem teve familiar ficando doente no meio do ano de au pair sabe o desespero que é toda e qualquer notificação no celular. Só quem já esteve completamente sozinha sem nenhuma alma que poderia ser chamada de amiga nos arredores sabe o quão desolador isso é. Só quem já passou natal, ano novo, aniversário, ..., longe da família e dos amigos sabe o quão triste isso pode ser.
Mas a gente segue em frente. Amanhã é outro dia. E no final, o que a gente cresce e amadurece em um ou dois anos não tem emprego ou carreira no Brasil que paguem.
E se você se sente desmotivada, sem rumo, achando que ta perdendo tempo sofrendo aí nas gringa... Pense que no final você vai sair disso uma pessoa muito mais forte, muito mais corajosa e independente. E nada no mundo vai conseguir te parar!
Um bom final de ano a todos vocês! Espero vocês em 2016!
Depois de tudo isso, criamos uma força e uma coragem inexplicável, que nenhuma experiência "em casa" iria trazer pra gente! Belo post, Isa!
ResponderExcluirOi Isa,
ResponderExcluirAcho que só quem mora fora entende essas sensações de solidão, força, desamparo, entre outras...
Às vezes também me questiono se estou perdendo o meu tempo (eu moro na Argentina), mas no fundo sei que não, não estou.
Quando eu voltar pro Rio vou te convidar para tomarmos um café hehe.
Beijos!
Olá Isa,
ResponderExcluirAinda não iniciei meu processo para ser Au Pair, mas depois de ler esse texto fiquei ainda mais motivada. Ultimamente ando meio sem saber o que fazer da vida, o que querer para o futuro e acho que essa experiência me ajudará muito quanto a me encontrar.
Adoro o blog!
Beijos!